sábado, 14 de janeiro de 2012

Hoje eu encontrei uma flor

Saindo de casa para o trabalho, me deparei com um pedreiro assentando pedras na calçada do vizinho. Havia com ele um pequeno monte de areia, cimento e outro das pedras que estava assentando no chão. Uma cena que você percebe casualmente, mas que não pára para ficar admirando. Talvez, por isto, deixei de notar um detalhe, que só vim a perceber hoje, quando a calçada já estava assentada e o pedreiro com os seus apetrechos já haviam deixado o local. Uma flor enraizada entre as pedras. A cena me pareceu, particularmente significativa. Pensei comigo que a planta pudesse, pelos meios da providência divina, ter brotado ali, apesar das adversidades. Ou que poderia ter sido ali deixada pelo pedreiro que trabalhara no local, no dia anterior. Mas, me parece que esta última hipótese poderia não agradar muito ao dono da calçada, que contratara o trabalhador para fazer o serviço em frente à sua casa. Então, me parece mais provável (e também mais agradável) a idéia de que a cena à minha frente fosse um singelo exemplo de superação que a natureza nos oferece onde menos esperamos. Além disso, não pude deixar de considerar que aquele pequeno sucesso de vida só ocorreu (e ocorre) porque as pessoas que passam ao lado da planta ficam tocadas com a valentia daquela flor, que insiste em cumprir sua missão de germinar, florescer e enfeitar a paisagem árida da calçada. Acredito que este sentimento pode ter detido a mão do pedreiro que a poderia ter arrancado, para deixar um serviço tecnicamente mais perfeito, mas também mais sem vida. Talvez a perfeição não exclua os defeitos. Talvez a perfeição seja um estado de espírito. Talvez possamos notar a beleza em detalhes despretensiosos e que, por isto, nos tocam mais profundamente do que em situações intencionais, construídas para agradar os sentidos. O acaso é um artista formidável, que nos comove e conta com a nossa própria bondade para embelezar a nossa vida. Mas talvez, o motivo de nossa simpatia por esta pequena flor seja porque nos identificamos com ela. Talvez nos vejamos a nós próprios como flores teimosas insistindo em florescer em meio à adversidade.