sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Estamos na rede da vida.

Querido irmão, Os grandes pesares do dia chegaram ao fim e, em meio à luz do crepúsculo, em tons de rosa e dourado, escuto a doce melodia do sono. Os filósofos estão enganados, acredito, ao nos ensinarem que o sono é semelhante à morte. Ele mais parece uma jornada sombria de volta aos braços de nossas mães, onde podemos ser abençados pelo adorável som de uma cantiga de ninar. Amanhã partiremos para a batalha em Bentonville, e estamos em tamanha desvantagem que não há a menor esperança de vitória. Perdoe-me, portanto, se não lhe digo que desejo abraçá-lo, pois não acalento tal esperança, ao menos não neste mundo. Reze por mim, irmão, pois o pior está por vir. E, caso suas preces sejam atendidas, talvez, também, o melhor. Sempre te amei, Charles.
A carta acima é atribuída a um soldado confederado chamado Charles, que tentou postá-la para seu irmão. Entretanto, a missiva nunca chegou ao seu destino e nem foi possível descobrir os nomes completos tanto do remetente quanto do destinatário. O citado soldado partiu junto com seu pelotão para uma batalha entre as últimas forças do Exército Confederado e os soldados ianques, do Exército da União. Embora a derrota dos confederados tenha sido um importante marco para a evolução social não apenas dos Estados Unidos da América, mas de toda a humanidade, pois os referidos confederados defendiam o sistema de trabalho escravo, enquanto que os ianques vitoriosos eram abolicionistas. No entanto, além de nos lembrar que em qualquer contenda militar, há pais, irmãos, maridos e filhos em ambos os lados da batalha, este pequeno trecho de história também nos diz que, algumas pessoas já tiveram a coragem de partir rumo ao seu destino, mesmo não tendo quaisquer esperanças de sucesso. Ao ler este relato, podemos pensar que, embora naquele instante, o soldado Charles não tivesse esperança de voltar da batalha, aliás, como não voltou, ainda assim, suas palavras chegaram-nos, no tempo atual, por meios tortuosos e improváveis. Havendo sido escritas em meados de 1865, estas palavras não se perderam, pois estão aqui e agora, perante seus olhos, para que você saiba que ele teve medo e talvez, até mesmo, para que você lhe tenha certa simpatia. E assim, as experiências do soldado Charles vem se juntar à sua psique, alterando sutilmente a pessoa que você é, nos mostrando que tudo está interligado e que nenhum homem é uma ilha.

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